segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Poemou... Instantes – Rubens Alves



Instantes
Se eu pudesse viver novamente a minha vida,
na próxima trataria de cometer mais erros.
Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais.
Seria mais tolo ainda do que tenho sido;
na verdade, bem poucas coisas levaria a sério.
Seria menos higiênico. Correria mais riscos,
viajaria mais, contemplaria mais entardeceres,
subiria mais montanhas, nadaria mais rios.
Iria a mais lugares aonde nunca fui,
tomaria mais sorvete e menos lentilha,
teria mais problemas reais e menos imaginários.
Eu fui uma dessas pessoas que viveu
sensata e produtivamente cada minuto da sua vida.
Claro que tive momentos de alegria.
Mas, se pudesse voltar a viver,
trataria de ter somente bons momentos.
Porque, se não sabem, disso é feita a vida,
só de momentos;
não percam o agora.
Eu era um daqueles que nunca ia a parte alguma
sem um termômetro, uma bolsa de água quente,
um guarda-chuva e um paraquedas;
se voltasse a viver, viajaria mais leve.
Se eu pudesse voltar a viver,
começaria a andar descalço no começo da primavera
e continuaria assim até o fim do outono.
Daria mais voltas na minha rua,
contemplaria mais amanheceres
e brincaria com mais crianças,
se tivesse outra vez uma vida pela frente.
Mas, já viram, tenho 85 anos
e sei que estou morrendo.*

Nota
* Autoria discutível. Poema atribuído ora a Jorge Luis Borges, ora a Nadine Stair.

Se eu pudesse viver a minha vida novamente - Rubens Alves

domingo, 29 de novembro de 2015

Noções sobre o Inconsciente - Sonhos - Novembro/15


Em Outubro iniciamos um passeio pelo inconsciente e neste sábado (28) fizemos uma breve parada no mundo onírico trabalhando o Método das quatro etapas: Fazer associações, Relacionar as imagens do sonho com a dinâmica interior, Interpretar e Realizar rituais para a concretização do sonho.Robert A. Johnson em o livro inner work, apresenta esse método, nos mostrando o sonho como ele realmente é e dizia Freud a seu tempo, a via régia ( caminho real) para o autoconhecimento.

Nossa gratidão a esse grupo mais que querido que tornou possível esse sonho de encontro!




segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Poemou... A Indesejada das gentes de Manuel Bandeira

CONSOADA

Quando a Indesejada das gentes chegar
(Não sei se dura ou caroável),
Talvez eu tenha medo. Talvez sorria, ou diga:
— Alô, iniludível!
O meu dia foi bom, pode a noite descer.
(A noite com seus sortilégios.)
Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,
A mesa posta,
Com cada coisa em seu lugar.


O poema é de autoria de Manuel Bandeira, poeta que se notabilizou por tratar do tema morte em sua obra.O título do texto, “Consoada”, pode referir-se à ceia da noite de Natal na tradição católica ou a uma leve refeição noturna, sem carne, que se toma em dia de jejum.
Na leitura atenta de um poema, vale observar os possíveis significados de cada termo ou expressão, pois a linguagem figurativa é polissêmica, isto é, aciona, ao mesmo tempo, mais de um significado.
No verso inicial, Bandeira emprega uma antonomásia, ao substituir a palavra “morte” pela perífrase “a Indesejada das gentes”; em seguida, então entre parênteses, o poeta demonstra dúvida sobre o modo de ela se apresentar — “dura” ou “caroável” ( “afável, gentil, afetuosa”) — e sobre a reação dele diante dela.
Os termos “dia” e “noite” são metáforas de “vida” e “morte”, respectivamente. Em seguida, o poeta retoma o uso dos parênteses, como se estivesse expressando algo tomado como ideia secundária: “a noite com seus sortilégios”. “Sortilégio” pode significar tanto “magia ou feitiço” como “sedução, fascínio, encanto” e até mesmo “conspiração ou maquinação”. Todos os significados são cabíveis e complementares no contexto.
Nos versos finais,  “Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,/ A mesa posta,/ Com cada coisa em seu lugar”, vale notar o emprego dos particípios (lavrado, limpa, posta) com valor de adjetivos em função de predicativo do objeto. Na função de predicativo, o adjetivo passa a caracterizar um ser tomado em determinado momento ou circunstância. Quando a morte chegar,  o campo estará lavrado, a casa estará limpa e a mesa estará posta.
O poeta, portanto, sente-se preparado para esse momento. Sente que “cumpriu sua missão”, ou seja, viveu.
Um dos maiores poetas brasileiros do século 20, o pernambucano Manuel Bandeira faleceu com 82 anos de idade, em outubro de 1968. Seu legado estará sempre entre nós.
Nos últimos dias, perdemos João Ubaldo Ribeiro, Rubem Alves e Ariano Suassuna, outros três grandes que nos deixam importante herança. Que seu desaparecimento físico seja apenas a sua passagem para a imortalidade.

http://thaisnicoleti.blogfolha.uol.com.br/2014/07/24/a-indesejada-das-gentes/


Desenvolver-se(R) não tem fim!

  Desenvolver-se enquanto pessoa, querer e se empenhar para ser um pouquinho melhor a cada dia, é uma aventura sem fim! Por mais que aprenda...