sábado, 24 de dezembro de 2016

POEMA DE NATAL - Vinicius de Moraes

POEMA DE NATAL

Rio de Janeiro , 1946

Para isso fomos feitos: 
Para lembrar e ser lembrados 
Para chorar e fazer chorar 
Para enterrar os nossos mortos - 
Por isso temos braços longos para os adeuses 
Mãos para colher o que foi dado 
Dedos para cavar a terra. 

Assim será a nossa vida: 

Uma tarde sempre a esquecer 
Uma estrela a se apagar na treva 
Um caminho entre dois túmulos - 
Por isso precisamos velar 
Falar baixo, pisar leve, ver 
A noite dormir em silêncio. 

Não há muito que dizer: 

Uma canção sobre um berço 
Um verso, talvez, de amor 
Uma prece por quem se vai - 
Mas que essa hora não esqueça 
E por ela os nossos corações 
Se deixem, graves e simples. 

Pois para isso fomos feitos: 
Para a esperança no milagre 
Para a participação da poesia 
Para ver a face da morte - 
De repente nunca mais esperaremos... 
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas 
Nascemos, imensamente.

http://www.viniciusdemoraes.com.br/pt-br/poesia/poesias-avulsas/poema-de-natal


segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Poemou... O amor - Gibran Khalil Gibran




O Amor


E alguém disse:
Fala-nos do Amor:



- Quando o amor vos fizer sinal, segui-o;
ainda que os seus caminhos sejam duros e difíceis.
E quando as suas asas vos envolverem, entregai-vos;
ainda que a espada escondida na sua plumagem
vos possa ferir.



E quando vos falar, acreditai nele;
apesar de a sua voz
poder quebrar os vossos sonhos
como o vento norte ao sacudir os jardins.



Porque assim como o vosso amor
vos engrandece, também deve crucificar-vos
E assim como se eleva à vossa altura
e acaricia os ramos mais frágeis
que tremem ao sol,
também penetrará até às raízes
sacudindo o seu apego à terra.



Como braçadas de trigo vos leva.
Malha-vos até ficardes nus.
Passa-vos pelo crivo
para vos livrar do joio.
Mói-vos até à brancura.
Amassa-vos até ficardes maleáveis.



Então entrega-vos ao seu fogo,
para poderdes ser
o pão sagrado no festim de Deus.



Tudo isto vos fará o amor,
para poderdes conhecer os segredos
do vosso coração,
e por este conhecimento vos tornardes
o coração da Vida.



Mas, se no vosso medo,
buscais apenas a paz do amor,
o prazer do amor,
então mais vale cobrir a nudez
e sair do campo do amor,
a caminho do mundo sem estações,
onde podereis rir,
mas nunca todos os vossos risos,
e chorar,
mas nunca todas as vossas lágrimas.



O amor só dá de si mesmo,
e só recebe de si mesmo.



O amor não possui
nem quer ser possuído.



Porque o amor basta ao amor.



E não penseis
que podeis guiar o curso do amor;
porque o amor, se vos escolher,
marcará ele o vosso curso.



O amor não tem outro desejo
senão consumar-se.



Mas se amarem e tiverem desejos,
deverão se estes:
Fundir-se e ser um regato corrente
a cantar a sua melodia à noite.



Conhecer a dor da excessiva ternura.
Ser ferido pela própria inteligência do amor,
e sangrar de bom grado e alegremente.



Acordar de manhã com o coração cheio
e agradecer outro dia de amor.



Descansar ao meio dia
e meditar no êxtase do amor.



Voltar a casa ao crepúsculo
e adormecer tendo no coração
uma prece pelo bem amado,
e na boca, um canto de louvor.


Gibran Khalil Gibran
O Profeta

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Poemou... As coisas transitórias - Rabindranath Tagore




As Coisas Transitórias

Irmão, 

nada é eterno, nada sobrevive. 
Recorda isto, e alegra-te. 

A nossa vida 
não é só a carga dos anos. 
A nossa vereda 
não é só o caminho interminável. 
Nenhum poeta tem o dever 
de cantar a antiga canção. 
A flor murcha e morre; 
mas aquele que a leva 
não deve chorá-la sempre... 
Irmão, recorda isto, e alegra-te. 

Chegará um silêncio absoluto, 
e, então, a música será perfeita. 
A vida inclinar-se-á ao poente 
para afogar-se em sombras doiradas. 
O amor há-de ser chamado do seu jogo 
para beber o sofrimento 
e subir ao céu das lágrimas ... 
Irmão, recorda isto, e alegra-te. 

Apanhemos, no ar, as nossas flores, 
não no-las arrebate o vento que passa. 
Arde-nos o sangue e brilham nossos olhos 
roubando beijos que murchariam 
se os esquecêssemos. 

É ânsia a nossa vida 
e força o nosso desejo, 
porque o tempo toca a finados. 
Irmão, recorda isto, e alegra-te. 

Não podemos, num momento, abraçar as coisas, 
parti-las e atirá-las ao chão. 
Passam rápidas as horas, 
com os sonhos debaixo do manto. 
A vida, infindável para o trabalho 
e para o fastio, 
dá-nos apenas um dia para o amor. 
Irmão, recorda isto, e alegra-te. 

Sabe-nos bem a beleza 
porque a sua dança volúvel 
é o ritmo das nossas vidas. 
Gostamos da sabedoria 
porque não temos sempre de a acabar. 
No eterno tudo está feito e concluído, 
mas as flores da ilusão terrena 
são eternamente frescas, 
por causa da morte. 
Irmão, recorda isto, e alegra-te. 

Rabindranath Tagore, in "O Coração da Primavera"
Tradução de Manuel Simões 

http://www.citador.pt/poemas/as-coisas-transitorias-rabindranath-tagore


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Em quem ou o que você está ancorada? Algumas pessoas colocam sua confiança fora de si mesmas, terceirizam seu próprio poder e aguardam que a...