segunda-feira, 27 de julho de 2015

Poemou ... Poemeu




Metade
Oswaldo Montenegro

Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
A outra metade é silêncio

Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Pois metade de mim é partida
A outra metade é saudade

Que as palavras que falo
Não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas como a única coisa
Que resta a um homem inundado de sentimentos
Pois metade de mim é o que ouço
A outra metade é o que calo

Que a minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que mereço
Que a tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que penso
A outra metade um vulcão

Que o medo da solidão se afaste
E o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
Que o espelho reflita meu rosto num doce sorriso
Que me lembro ter dado na infância
Pois metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade não sei

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o seu silêncio me fale cada vez mais
Pois metade de mim é abrigo
A outra metade é cansaço

Que a arte me aponte uma resposta
Mesmo que ela mesma não saiba
E que ninguém a tente complicar
Pois é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Pois metade de mim é plateia
A outra metade é canção
Que a minha loucura seja perdoada
Pois metade de mim é amor

E a outra metade também

https://www.youtube.com/watch?v=GLkQMFVg8V8

domingo, 26 de julho de 2015

Reflexão sobre a Tristeza e o Sofrimento.



A dor tem o propósito de chamar atenção e esclarecer caminhos que se mostram nublados, incompreendidos e por vezes nem vistos ainda.
O que se escolhe interpretar a cada experiência que se experiencia cabe exclusivamente a cada um.
A tristeza chega como um alerta que faz parar e repensar situações, caminhos, opções. 
A caminhada é árdua é verdade, porém objetiva compreender a lição que a dor oferece.
Permitir-se sentir o que realmente sente, com segurança e respeito pelas própria subjetividade é a via para crescer e conhecer-se.
Sofrer coloca todos em um lugar comum. É no sofrimento que  identificamos e sentimos pertencentes ao mesmo projeto que  impulsiona a vida a cada dia.
No sofrimento do outro vemos nossa face. O outro nos revela.
Evitar o contato com o que machuca, pode nos colocar num local muito perigoso, pois que não lidar com o sofrer não o extermina, mas nos aliena de quem somos.

O encontro de Sábado (25/07/15) foi muito especial pela disposição de todos em receber um tema que desnuda, coloca frente a frente com a fragilidade, mas que também fortalece a medida que se recebe cada experiência da vida como a adequada para ser melhor a cada dia.

Gratidão pela possibilidade doce e carinhosa de crescer com vocês,


Sandra Miranda



segunda-feira, 20 de julho de 2015

Poemou ... Poemeu


Retrato

Eu não tinha este rosto de hoje,

Assim calmo, assim triste, assim magro,
Nem estes olhos tão vazios,
Nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,

Tão paradas e frias e mortas;
Eu não tinha este coração
Que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,

Tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida
a minha face?



 Cecília Meireles 


(Obra poética, Volume 4, Biblioteca luso-brasileira: Série brasileira. Companhia J. Aguilar Editora, 1958, p. 10)



sábado, 18 de julho de 2015

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Poemou ... Poemeu





Mormaço na Floresta - a magia


Eu venho desse reino generoso,

 onde os homens que nascem dos seus verdes



continuam cativos esquecidos


e contudo profundamente irmãos


das coisas poderosas, permanentes


como as águas, os ventos e a esperança.


Vem ver comigo o rio e as suas leis.


Vem aprender a ciência dos rebojos,


vem escutar os cânticos noturnos


no mágico silêncio do igapó


coberto por estrelas de esmeralda.

                                       

Thiago de Mello

Do livro: "Mormaço na Floresta"Círculo do Livro, 1984, SP  

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Poemou... Poemeu


Não posso adiar o amor


Não posso adiar o amor para outro século 
não posso 
ainda que o grito sufoque na garganta 
ainda que o ódio estale e crepite e arda 
sob as montanhas cinzentas 
e montanhas cinzentas 

Não posso adiar este braço 
que é uma arma de dois gumes 
amor e ódio 

Não posso adiar 
ainda que a noite pese séculos sobre as costas 
e a aurora indecisa demore 
não posso adiar para outro século a minha vida 
nem o meu amor 
nem o meu grito de libertação 

Não posso adiar o coração 





António Ramos Rosa


EM QUEM OU O QUE VOCÊ ESTÁ ANCORADA?

Em quem ou o que você está ancorada? Algumas pessoas colocam sua confiança fora de si mesmas, terceirizam seu próprio poder e aguardam que a...