segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Poemou... Órfã na Janela -Adélia Prado




ÓRFÃ NA JANELA


Estou com saudade de Deus,

uma saudade tão funda que me seca.

Estou como palha e nada me conforta.

O amor hoje está tão pobre, tem gripe,

meu hálito não está para salões.

Fico em casa esperando Deus,

cavacando a unha, fungando meu nariz choroso,

querendo um pôster dele no meu quarto,

gostando igual antigamente

da palavra crepúsculo.

Que o mundo é desterro eu toda vida soube.

Quando o sol vai-se embora é pra casa de Deus que vai,

pra casa onde está meu pai.


O coração disparado – Adélia Prado

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