segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Poemou... Ano Novo - Ferreira Gullar



Ano Novo


Meia noite. Fim

de um ano, início
de outro. Olho o céu:
nenhum indício.



Olho o céu:

o abismo vence o
olhar. O mesmo
espantoso silêncio
da Via-Láctea feito
um ectoplasma
sobre a minha cabeça:
nada ali indica
que um ano novo começa.



E não começa

nem no céu nem no chão
do planeta:
começa no coração.



Começa como a esperança

de vida melhor
que entre os astros
não se escuta
nem se vê
nem pode haver:
que isso é coisa de homem
esse bicho
estelar
que sonha
(e luta)



GULLAR, Ferreira. Toda poesia. Rio de Janeiro: José Olímpio, 1997.


Obs.: Contribuição Anne Castro


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