domingo, 18 de dezembro de 2011

Sobre a amizade


Por esses dias escutei o seguinte desabafo: “Descobri que minha melhor amiga me esqueceu, devido seu montante de trabalho, e muita correria, durante quase toda quinzena, sempre que me telefonava, falava de si sem parar e não me ouvia, a cada ligação sua, sabia que ela lançaria seus problemas e depois desligaria achando-me estranha, pois que desisti de partilhar meus problemas, já que os dela me pareceram mais urgentes e inadiáveis. Mas, perdi a paciência quando ela discorreu sobre meu egoísmo, quando combinamos almoçar na quarta-feira às 13hs, o que para mim já significava um sacrifício, pois almoço cedo, e ao ligar às 13h15min, ela só ficaria livre às 14hs, desisti do almoço por falta de tempo e ela depois me disse que ficou livre às 20hs. Então ela ficou de passar em casa no outro dia e no outro e no outro, quando ela me cobrou atenção, pois que vai viajar, e eu também, mas ela nem pode me ouvir, eu disse que o tempo livre que eu tinha para a ouvir era justamente o de quarta-feira as 13hs, aí ela me gritou que não era um de meus clientes! Mas então porque se comporta como se? Entristeci-me, pois ao contrário dela, os clientes não me deixem esperando tanto tempo, eles já entendem o significado de limite, o que ela talvez não...”
Após a fala, a jovem mostrou-me uma carta de Florbela (amiga) que dizia o seguinte: “... estas últimas semanas estão sendo difíceis para mim, tenho certeza que são tempos de testemunhos e espero que entendas quando não tive oportunidade de te escutar (quando tu escutas tanta gente!)...”
A jovem em questão é paga para ouvir e Florbela queria ser ouvida, mas esqueceu que do outro lado do telefone também havia um ser que precisava ser ouvido e que seu papel para com ela, era de amizade. A persona de profissional não vigorava na relação que as unia.
Todos os dias são assim... Olhamos e não vemos, o mundo está diante de nós e não podemos perceber, nos confundimos e por isso confundimos o outro. Queremos o que não damos e ficamos sem entender o que acontece. Mas a amizade é como uma oração, quantas orações são feitas sem que o coração participe das mesmas? Quantos rezam por desespero e não por amor e ficam sem entender porque não são beneficiados. Mas basta que se eleve o sentimento para que haja benesses. Para olharmos para fora com consciência, precisamos conhecer-nos e conhecer-se é tarefa diuturna, vai acontecendo com a vida.
Em algum momento podemos ser Florbela exigimos o que não damos como também podemos ser a jovem damos quando queremos e/ou precisamos receber.
Quando nos afastamos de nós, não deixamos de ver apenas nós mesmos, deixamos também de ver o outro. Quando deixamos de nos importar conosco por certo também não conseguimos nos importar com o próximo. É Por isso que a amizade é tão nobre e importante, porque quando olhamos profundamente nos olhos do amigo é a nós mesmos que vemos.
Que possamos dar e receber, mas, sobretudo repartir para que os dias não continuem solitários, mas solidários e que as distâncias entre ouvidos e bocas diminuam para que corações possam realmente se aproximar.

Carinhosamente,
Sandra Miranda

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