Vivo a alegria de trabalhar com jovens de todas as idades e a honra de receber momentos felizes e não tanto de pessoas que me dedicam confiança e o desprendimento da partilha.
Algumas vezes perguntam: – Como você aguenta escutar tantos problemas?
E me espanto, pois não escuto problemas, escuto vidas! E isso faz toda diferença para mim e sei que para cada um que me permite desabafos seus.
Hoje no terapeuticamente falando quero compartilhar sobre o relacionamento a dois.
Alegro-me em receber... Bem, vou nomeá-los carinhosamente de Emílias e Viscondes, são jovens atentos, em busca do crescimento consciêncial, além do material e ao ouví-los, confirmo o quanto a vida é maravilhosa e conspira ao nosso favor, pois oferece todas as lições que precisamos aprender evolutivamente na convivência diária.
Os casais tendem a apontar em seus parceiros o que os incomodam, mas é interessante e intrigante ouvir que as falas brotam como ecos: Ele não me percebe (ela diz), ela não me percebe (repete ele), ele já não me nota (entristece ela), acho que ela já não me ama (duvida ele)... É um fenômeno no mínimo curioso, se numa sessão ela fala: Ele não nota nada que faço, na sessão seguinte ele diz: Ela não liga para mim...Nem me pergunta como foi a festa do dia anterior...
Espelhos que se refletem, mas que não se olham, pois aprenderam apenas refletir.
Observa-se no outro o que há internamente, ou melhor, dizendo reconheço apenas o que conheço em mim, a frase é antiga como uma jeans, mas continua válida!
Penso em Emilia, linda, inteligente, pensamento rápido, porém espera que Visconde a valide, a reconheça em sua magnitude. O mesmo ocorre com Visconde, belo, igualmente inteligente, prático, todavia mesmo conhecendo algumas limitações de sua parceira, aguarda que ela faça a tarefa que ainda não sabe, pois ele não a ensinou e ela aprendeu com os pais conceitos que a prende a um estágio que ele possivelmente nem ouviu falar, por outro lado Emilia espera que Visconde a acolha como o pai a acolhia, pois esse é o modelo masculino que ela primeiro conheceu e em sua memória está gravado que homens fazem assim ou assado. É assim mesmo! Por mais que cresçamos repetimos o que aprendemos olhando os pais fazerem, instintivamente é o que buscamos, até um dia nos darmos conta que a nossa repetição automática não nos tem deixado serenos.
Ouvindo Emílias e Viscondes vejo-os uns nos outros refletidos, românticos, sonhadores, arrojados, todavia algumas vezes estão Narcisos olhando tão profundamente para si mesmos que não se percebem, embora digam: eu amo. Mas é eu amo se... E quando o condicional aparece sem vigilância a flor pode murchar...
Lembrando de Emilias e Viscondes gostaria de sugerir uma pergunta, se esse texto fez algum sentido para você:
Será que o que peço ao outro, dou?
Será que o outro está tão satisfeito comigo como imagino estar e quero estar com ele?
Será que o que estou vendo no outro é dele mesmo ou meu? Tem certeza?
Abraço carinhoso a todas as Emílias e Viscondes que continuam acreditando no amor.
Sejam felizes hoje, amanhã, em todos os Natais e anos vindouros!
Sandra Cristina Miranda